terça-feira, 12 de novembro de 2013

hi people bom hoje para encerrar a noite irei postar uma poesia japonesa :)
Atrai-me e confunde-me a arte japonesa. Para um gosto formado na estética ocidental há uma sensibilidade plástica que nos é estranha mas mantém uma enorme sedução.
A literatura, e sobretudo a poesia, para um leitor desconhecedor do japonês e da sua cultura, revela-se ora inacessível ora deslumbrante, dependendo de quem e como a transpôs para a língua em que a encontramos.
Faço hoje uma viagem no tempo pela mão das traduções de Luísa Freire, poetisa ela própria e tradutora notável dos poemas ingleses de Fernando Pessoa, visitando a poesia japonesa escrita no feminino entre os séculos IX e XI.

São poemas de duas poetisas, ONO NO KOMACHI  e ISUMI SHIKIBUa primeira uma figura lendária na história literária do Japão, a segunda a maior poeta  do país  – nas palavras da tradutora

Os poemas dispensam comentários e saboreiam-se sem mediação interpretativa. A escolha é pessoal e aí vai:
ONO NO KOMACHI
O meu desejo de ti
é forte para contê-lo –
assim ninguém vai culpar-me
se à noite for ter contigo
pela estrada de meus sonhos.

Não há como vê-lo
nesta noite sem luar –
estou deitada e desperta,
os seios ardendo em desejo
e o coração em chamas.


Pensei ter colhido
a flor do esquecimento
só para mim mesma;
mas encontrei-a a crescer
também no coração dele.
 


wasuregusa, a palavra japonesa do poema que significa “flor do esquecimento” é o equivalente inglês de “forget-me-not” ou do português “amor-perfeito” – a subtileza decorrente da duplicidade do sentido do poema consoante seja lido na sua literalidade de metáfora ou na significação do real, é um exemplo esplendoroso da beleza inspirada desta poesia onde a concisão se desdobra numa multiplicidade de emoções e sentimentos.



Escolho agora de ISUMI SHIKIBU (974? – 1034?) apenas alguns poemas de solidão e desejo, com uma que outra amarga reflexão, deixando de fora poemas onde a presença do efémero na natureza transmite, de forma singular, a vulnerabilidade do viver:

Se o cavalo dele
tivesse sido domado
pela minha mão –
eu tê-lo-ia ensinado
a não seguir mais ninguém.


Mesmo quando um rio
de lágrimas atravessa
e molha este corpo,
não chega para apagar
todo o fogo do amor.


Porque não terei
pensado nisto já antes?
Este corpo meu
ao recordar tanto o teu
tem a marca que deixaste.


Penso: “nos meus sonhos
poderemos encontra-nos” …
Virando a almofada,
eu ando às voltas na cama
incapaz de adormecer.


Consumi o corpo
a desejar o regresso
do que não voltou.
É agora um vale profundo
o que foi meu coração


Deixada aqui
a envelhecer no mundo
sem ti ao meu lado,
as flores perdem a beleza
tingidas de negra cor.

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